sábado, 3 de março de 2012

Best of 2011 - According to God

So, eis que God is back, aqui vos escrevendo tais linhas. Em Mãos, Sua lista, como sempre - A Definitiva.

Como todos sabem, Deus frequenta apenas as salas de Porto Alegre, Brazil. Como se poderá perceber, optei novamente por um top 10 e, em seguida, as listas B e C. Os filmes da lista D serão citados mais adiante, em forma de texto.

Bem, let's go. (Lembando que God, Eu, fiz uma lista em ordem alphabetical, as always, pois sou incapaz de tomar decisões difíceis na vida.)

Top 10

Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami

Margin Call, de J.C. Chandor

*Meek’s Cutoff, de Kelly Reichardt - inédito no Brasil

Pânico 4, de Wes Craven

Passe Livre, dos meus, dos seus, dos nossos irmãos Farrelly

A Pele Que Habito, de Pedro Almodóvar

Singularidades de Uma Rapariga Loura, de Manoel de Oliveira

Tio Boonmee Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, de Apichatpong Weerasethakul

Trabalhar Cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra

Vênus Negra, de Abdellatif Kechiche


Lista B

As Cartas Psicografadas de Chico Xavier, de Cristiana Grumbach

Homens e Deuses, de Xavier Beauvois

*I Saw The Devil, de Kim Ji-woon - inédito no Brasil

L'Apollonide: Os Amores da Casa de Tolerância, de Bertrand Bonello

Um Lugar Qualquer, de Sofia Coppolla

*O Pecado de Hadewijch, de Bruno Dumont - lançado, na verdade, em 2010.


Lista C

As Canções, de Eduardo Coutinho

O Homem ao Lado, de Mariano Cohn, Gastón Duprat

O Mágico, de Sylvain Chomet

Meia-Noite em Paris, de Woody Allen

Operação Presente, de Peter Baynham e Sarah Smith

Poesia, de Lee Chang-dong

O Porto, de Aki Kaurismäki

Um Sonho de Amor, de Luca Guadagnino

Super 8, de J. J. Abrams


Ao contrários dos seres mundanos, que comentam os primeiros filmes da lista, comentarei os últimos colocados. São eles:

- Missão Madrinha de Casamento e Professora Sem Classe, as comédias lideradas por mulheres, tão comentadas no ano, como isso fosse algum tipo de sinal - veremos... Pensei em colocar o primeiro ocupando um espaço na lista C, porque, ao rever, me diverti imensamente, mas creio ser um filme que não atinge inteiramente o seu potencial, como é também o caso de Professora Sem Classe, um filme bem divertido, cujo grande mérito é dar uma subvertida no que se espera de uma comédia romântica, abolindo a esperada transformação da protagonista, além de possuir um inusitado anti-timing caricato.

- Bróder, um belo e imperfeito filme de estreia de Jeferson D, muito bonito e honesto. Pensei em subir posição na lista, também, mas seria preciso uma revisão.

- O Garota da Bicicleta, dos irmãos Dardenne, que é redondinho e meio esquemático, um trabalho muito acomodado, feito por quem já fez coisa muito melhor. Não deixa de ser um bom filme.

- Além da Vida, um muito bem filmado trabalho do Clint, excelente em seus melhores momentos. Mas o roteiro é, esse sim, bastante esquemático, com alguns momentos realmente ruins, prejudicando o resultado como um todo.

- A Árvore da Vida é um filme único, para o bem e para o mal. Uma mistura de belos momentos com outros um tanto ridículos, é um caso em que tanto o que se diz de bom quanto de ruim parece valer. A ser revisto.

- Cyrus é muito bem escrito, absurdamente bem interpretado por Jonah Hill, Marisa Tomei e John C. Reilly, e, infelizmente, muito mal filmado - em especial pela opção dos insuportáveis zoom, que só servem de incômodo - um tique visual "indie", às vezes utilizado sem qualquer critério, como aqui é o caso. Ainda assim, gosto do filme, já que a base é bem forte.

- Por fim, Bravura Indômita, um filme dos Coen que eu tinha gostado bastante, mas, com o passar do tempo, foi enfraquecendo em meu lindo cérebro. Nunca revi e, por isso, não saberia dizer o que penso do filme.


É isso. Até mais.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Melhores de 2010

Aproveitando o final desse 2011, posto aqui minha lista de filmes favoritos do ano que passou. Antes desse.

Listarei os filmes de minha preferência, sem a preocupação com a quantidade. Ordem alfabética, para me arrepender um pouco menos, nos próximos anos. Filmes lançados nos cinemas em Porto Alegre, no período, ou em home video (caso apenas do filme do Apatow).

Top 10

A Sétima Alma, Wes Craven
Brilho de Uma Paixão, Jane Campion
Ervas Daninhas, Alains Resnais
Guerra ao Terror, Kathryn Bigelow
Minha Terra, África, Claire Denis
Mother, Bong Joon-Ho
O Escritor Fantasma, Roman Polanski
Sempre Bela, Manoel de Oliveira
Toy Story 3, Lee Unkrich
Vincere, Marco Bellocchio

Lista 2

À Prova de Morte, Quentin Tarantino
A Caixa, Richard Kelly
A Falta Que Me Faz, Marília Rocha
Film Socialisme, Jean-Luc Godard
Ilha do Medo, Martin Scorsese
Moscou, Eduardo Coutinho
O Fantástico Sr. Raposo, Wes Anderson
O Que Resta do Tempo, Elia Suleiman
Ponyo - Uma Amizade que Veio do Mar, Hayao Miyazaki
Procurando Elly, Asghar Farhadi
Vício Frenético, Werner Herzog
Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, Woody Allen

Lista 3

A Órfã, Jaume Collet-Serra
A Rede Social, David Fincher
Cabeça a Prêmio, Marco Ricca
Napoli Napoli Napoli, Abel Ferrara
No Meu Lugar, Eduardo Valente
O Golpista do Ano, Glenn Ficarra e John Requa
Onde Vivem os Monstros, Spike Jonze
O Último Mestre do Ar, M. Night Syamalan
Tá Rindo do Quê?, Judd Apatow
Tudo Pode Dar Certo, Woody Allen
Tulpan, Sergei Dvortsevoy

Passando os olhos pela lista de filmes vistos, sem perder tempo com isso, cheguei a uma dos que menos agradaram. Lembrando que Sex and the City 2 é hors-concours, e nem passei dos 15 primeiros minutos.

O Desgosto

À Deriva, Heitor Dhalia
Maluca Paixão, Phil Traill
O Segredo dos Seus Olhos, Juan José Campanella
Partir, Catherine Corsini
Preciosa, Lee Daniels
Sherlock Holmes, Guy Ritchie
Shrek Para Sempre, Mike Mitchell
Um Olhar do Paraíso, Peter Jackson
Vidas Que Se Cruzam, Guillermo Arriaga

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Superfície

Após a postagem a respeito de Cisne Negro, percebo que os dois textos aqui escritos levam a uma questão que considero bastante incômoda, nos tempos atuais. Recepção.

Christopher Nolan, para muitos, é atualmente um expoente do cinema norte-americano, com seu A Origem, Cavaleiro das Trevas, etc. A idéia é que Nolan trabalha dentro do cinema de gênero, atingindo profundidade. Por outro lado, temos M. Night Shyamalan, cuja carreira está em decadência filme após filme, desde o sucesso de O Sexto Sentido. Assim, colocando no "papel", me parece tão lógico: como é possível?!

Cisne Negro é um filme ousado e artístico, já li muito esse artístico por aí. Já a Sétima Alma é uma profusão de clichês e maus diálogos em um roteiro incompreensível. São as impressões gerais a respeito dos filmes. Poderíamos colocar na roda, também, Showgirls, do Paul Verhoeven, clássico exemplo de filme considerado fracasso total de um grande cineasta, asism como A Sétima Alma, de Wes Craven, e Fim dos Tempos, de Shyamalan. Os três filmes, curiosamente, são exemplos do que melhor é, ou foi, feito em Hollywood nos últimos anos.

Superfície e profundidade. Os filmes de Nolan me incomodam especialmente, pois já partem do pressuposto de que filmes de gênero são inferiores e os dele são especiais, por serem dotados dessa suposta profundidade.

O roteiro de A Origem é considerado uma coisa incrível, tem recebido vários prêmios. No aspecto formal, o roteiro é bastante esforçado, deve ter sido, aliás, um processo bastante cansativo. Muito mais que um grande roteiro, é um roteiro extremamente vaidoso. Tudo a serviço de nada. Então por que não assumir esse nada? Não poderia ser apenas um filme de ação, divertido e só? Imagina, Nolan é um sujeito muito inteligente para fazer um filminho de ação qualquer. Ele precisa construir um labirinto de roteiro para demonstrar sua inteligência. E que tudo esteja relacionado a um drama do personagem. Pronto, temos um filme de gênero com cérebro!

Já o "tenebroso" roteiro de A Sétima Alma, além de muito mais honesto, é zilhões de vezes mais ousado e criativo. Craven utiliza todos os clichês possíveis e cria um filme que não se parece com qualquer outro slasher. É acusado de incompreensível quando, na verdade, é muito simples. A absorção é apenas superficial - se o filme de Wes é mais um slasher com adolescentes correndo de um assassino, que utiliza vários clichês e tem uma trama confusa, ele é apenas um mau filme, uma repetição. Mas o filme não esconde nada, tudo o que precisa ser compreendido está lá. E o que precisa ser compreendido não é como as almas pulam daqui pra lá. Ou que a revelação do assassino, tão aguardada na triologia Pânico, aqui inspiradamente frustrante, seja impressionante. A inteligência do filme está na forma como utiliza o gênero para abordar certas questões e, justamente, na frustração de certas expectativas. (Muitíssimo curiosamente, se Wes tivesse dirigido apenas um slasher clichê e convencional, como foi acusado, seu filme jamais seria tão atacado!, pois seria de simples fruição.)

A Sétima Alma, sim, é um filme inteligente. Showgirls, sim, é um filme inteligente, em que todo clichê possível está lá e o resultado e um filme absolutamente único, não há nada parecido. Como Rivette disse, é o mais puro Verhoeven. E A Sétima Alma é o Showgirls de Wes Craven, o filme que mais tem a sua cara, sua visão, seu senso de humor. Em Fim dos Tempos, Shyamalan frustrou a todos com seu quase filme B, um anti-catástrofe. Lá, novamente, estão toda a sua visão e temas de interesse, senso de humor peculiar. Todos os três filme possuem um senso de humor bastante particular e, ao que parece, incompreendido. Os três filmes vão contra o padrão do que é bonito, do que é bom - uma boa atuação, um bom roteiro. Na superfície, de certa forma, são três filmes ruins. Mas esses não são filmes superficiais.

Na superfície, A Origem é um filme esteticamente impressionante, para os mesmos impressionáveis de Cisne Negro. É um produto de luxo. E, como todo luxo, supérfluo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cisne Negro ou Um Blog Sério

Cisne Negro foi concebido como um terror psicológico, mas esse 'psicológico' da expressão nunca é devidamente explorado, ficando apenas na prateleira da locadora (que, aliás, não existe). Há apenas uma pincelada da construção de uma personagem; uns clichês bem conhecidos (quais não são?) - relacionamento com a mãe, vida de bailarina e repressão sexual. Ainda assim, muitos filmes são geniais trabalhando apenas a superfície, poderíamos nos deparar com um filme potente, um exercício de gênero, por exemplo. Mas daí vem o outro problema, a construção de tensão do filme é nula - culpa da decupagem, incapaz de extrair qualquer suspense do roteiro. E das imagens que, com raras exceções, são desinteressantes e brochas (não quero repetir a palavra 'potente'). E então Aronofsky recorre a um trabalho de som exasperante, às vezes totalmente óbvio, sempre excessivo. É um filme todo excessivo, podem dizer. Mas aí ele também falha, por não se entregar totalmente ao delírio. (Tem também o fato, criticado em alguns textos espertos, de realidade e alucinação serem claramente explicadinhas no filme.) Nos últimos minutos, sim, Cisne Negro pega mais pesado (deixando de lado o cortar de unhas) nos delírios da personagem, em cenas potencialmente interessantes, mas que soam deslocadas e um tanto ridículas, dentro do conjunto.

Meu irmão, um espectador qualquer (e inteligente), ao final do filme, revelou achar tudo muito chato, até certo ponto, mas então deu uma melhorada. Embora ele não tenha gostado. "Mas não achei podre", ele disse. Então! Curiosamente, ele deixou de achar o filme chato em seu melhor momento, quando a personagem de Natalie Portman vai se soltar na boate com a bailarina liberal, haha, Mila Kunis (uhuu). Bem, todo o desenvolvimento da personagem é idiota, é preciso salientar. Festinha, amiga sexy soltinha, beijinho lésbico, drogas, briga com mamãe louca protetora, enfim, clichês mesmo. Era questão de se entregar a eles ou evitá-los, e Arô não faz nenhuma das coisas. A cena da festa, em boa parte, tem sua força no desempenho de Kunis, imensamente sedutora, trabalhando com uma interessante quase-ambiguidade - que o filme infelizmente não tem, tenham certeza. E também, ali, a personagem de Natalie Portman começa a curtir um sexy sexo indecente, abandonando, eventualmente, sua cara de "problemas intestinais", nas palavras de Inácio Araújo. Meu (mesmo) irmão (tenho tantos), durante o filme, definiu seus sentimentos de outra forma: "dá vontade de dar um soco na cara dela". Natalie está fria e técnica (o que pode parecer facilmente justificável, assim como o visível esforço da atriz nas cenas de balé, mas não é). A culpa? Mais de Arô. Afinal, o filme é quase inteiramente dirigido assim, com uma frieza (e certo auto-encantamento) que provoca apenas tédio.

Podre não é. Ruim, só ruim. Inácio Araújo, novamente, disse algo bastante apropriado, a respeito de Cisne Negro. Trata-se de um filme para impressionar impressionáveis. E, pelo visto, o mundo está cheio deles. (Frase de efeito para acabar.)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A Sétima Alma

Primeiro, os fatos. A Sétima Alma é o mais recente longa de Wes Craven, seu primeiro roteiro desde o subestimado O Novo Pesadelo, lá em 1994. A recepção da crítica foi péssima, assim como a do público. De modo geral, os críticos consideram o filme um "amontoado de clichês", uma mistura de A Hora do Pesadelo e Pânico, cheio de péssimos e excessivos diálogos. Muitos disseram se tratar do pior filme da carreira do diretor.

A Sétima Alma começa com um breve flashback, a história de um homem que sofre de múltiplas personalidades, uma delas de serial killer, quando é preso após matar sua esposa e, a caminho do hospital, na ambulância, morre em um acidente. Dezesseis anos depois, um grupo de adolescentes se reúne para comemorar a morte do Estripador, como o assassino ficou conhecido, e também o aniversário de sete deles, nascidos naquela mesma noite. Eis que, entre eles, atrasado, surge Bug, o protagonista do filme, em uma excelente interpretação, aliás, de Max Thieriot. Os jovens brincam com o aniversário da morte, mas Bug leva tudo muito a sério, assustado. O tom do filme começa a se estabelecer, o suspense a partir do banal e uma forte ironia e senso de humor. Na trama, o assassino retorna, possivelmente reencarnado no corpo de um dos sete jovens, para matá-los, um a um.

Bug é um protagonista como nenhum outro, no cinema de horror. Geralmente, o "herói", se não inteligente, possui certa astúcia. Bug é inocente, como é repetido no filme, mas sua inocência é quase débil mental, embora Craven o retrate de forma sempre afetuosa. Aqui temos um garoto que não sabe desligar um aparelho celular, e o recebe, aos 16 anos, como uma novidade. O filme explora essa 'lentidão' do personagem de forma muito diversa da habitual e com um senso de humor bastante inteligente. Ao aparelho de Bug, por exemplo, sua mãe cola um papel com três números de telefone: o dele mesmo, o dela e, abaixo, "Help: 911".

E se Bug não é um protagonista comum, A Sétima Alma está muito longe de ser um slasher comum. Craven sempre misturou admiravelmente, em seus melhores filmes, o humor com o suspense, dando praticamente a mesma importância aos dois elementos. Aqui, entretanto, a comicidade tem toques inusitados, um pouco absurdos. O tema do filme, o amadurecimento do protagonista e sua passagem para a fase adulta, é muitas vezes abordado dentro de diálogos cômicos, misturados a situações de suspense, o que gera um raro e salutar estranhamento. Os criticados diálogos, aliás, são muitas vezes ótimos, como quando Bug e seu melhor amigo conversam sobre fingir ser um homem adulto, mesmo não sendo. É uma cena de diálogo, cômica, em que a trama avança e os personagens e suas relações se desenvolvem, tudo ao mesmo tempo.

O roteiro, sim, é tomado por diversos clichês do gênero, mas para serem subvertidos. Por exemplo, perto do final do filme, temos o momento que seria de uma grande revelação, típico do gênero, sobre o passado de um personagem. Curiosamente, Craven praticamente entrega ao espectador, antes da hora, essa informação - que fora adiada por tanto tempo. Quando o personagem é informado, o público deixa de ser pego de surpresa, o que, dentro do gênero, não deixa de ser surpreendente. Mas, logo antes, de forma totalmente cotidiana, sem alarde, há uma considerável surpresa, envolvendo a personagem Fang, escrotinha-chefe que comanda seu grupo de amigos, na escola.

A conclusão da história também foi alvo de críticas, por ser excessivamente dialogada e explicativa. Equívoco, pois está claramente inserida na proposta de brincar com o gênero e com as expectativas da platéia, chegando ao ponto de um personagem fazer piada com uma das possíveis versões que o filme cria para o retorno do Estripador. Craven joga o tempo todo, criando suspense em torno de uma grande revelação que, por si só, não tem a menor relevância: no corpo de qual deles voltou o Estripador? É lógico que vai existir uma importância fundamental para essa escolha, mas o jogo de adivinhação, na forma clássica dos slashers, é completamente sem sentido.

Há outro grande momento, como a cena do Condor, na escola, em que Craven aproveita para fazer humor, e até um estranho tipo de suspense, a partir de uma metáfora com que o filme trabalha. Certamente é um de meus filmes preferidos, e mais injustiçados, de 2010.

Boa Sorte

A coisa vai ser vagabunda por aqui, mesmo.